sexta-feira, 18 de julho de 2008

MDB: governo militariza problemas

18 de julho de 1968


O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) acusou o governo de reduzir os graves problemas nacionais a amplas acusações de "subversão" e "contra-revolução", e de somente encará-los de um ponto de vista militar, que a tudo e contra todos exige punição.

Em comunicado de análise da nota do Conselho de Segurança Nacional, o partido afirma que "toda a introdução dessa nota é uma tentativa de síntese da ideologia de Segurança Nacional, elaborada na Escola Superior de Guerra". "Os movimentos de inconformismo e oposição do povo - assinala a nota - são todos como "antagonismo", a serem obstados pelo mecanismo de punição dos responsáveis pela segurança menos do País que da estrutura governamental instalada no poder há quatro anos".

Greve se amplia em SP e padres apóiam

Os operários de Osasco não permitiram ontem a posse do interventor designado pelo ministro do Trabalho para o Sindicato dos Metalúrgicos, e receberam solidariedade de padres e dos seguintes sindicatos: Metalúrgicos do ABC, Bancários, Químicos e Gráficos de São Paulo, Têxteis, Metalúrgicos e Bancários de Santo André.

O padre Antônio Almeida Soares, que foi comunicar aos operários o apoio da Igreja, disse que há padres-operários que participam ativamente do movimento e que outros sacerdotes de São Paulo, Santo André, Belo Horizonte, Volta Redonda, Rio, Recife, Porto Alegre e possivelmente até alguns bispos darão apoio aos grevistas.

Dois brucutus e um pelotão de choque da Força Pública continuavam cercando esta madrugada o Sindicato dos Metalúrgicos, ainda em poder dos operários. Em entrevista coletiva, o ministro Jarbas Passarinho disse que o que está havendo em Osasco "é crime de rapinagem e como tal deverá ser punido".

Nota do Conselho só fez intranqüilizar

Discursando no Senado, o sr. Josaphat Marinho classificou como "absolutamente intranqüilizadora" a nota do Conselho de Segurança. Disse o parlamentar: "Parece mesmo que não se reuniu um Conselho de Segurança, mas um Conselho de Intranqüilidade". Entende o sr. Josaphat Marinho que o governo, pela nota, deixou de ser um instrumento de garantia da paz para se transformar em instrumento de agitação.

O senador baiano considera "sumamente grave" o fato de o governo pretender que a imprensa não seja órgão de informação da verdade ao País, mas instrumento a serviço de seus interesses e de seus propósitos. E acentuou: "Ora, a imprensa do País, de modo geral, combate qualquer processo de subversão, condena os movimentos de agitação. Mas o que a imprensa não pode, sem prejuízo de sua fidelidade à opinião pública, é converter manifestações populares em atos de subversão, nem transformar o sistema de inércia do governo em mecanismo de trabalho e de progresso".

Na opinião do parlamentar, o governo está isolado do povo, falta-lhe poder de comunicação com as massas. Esse distanciamento, entretanto, não decorre da deturpação dos fatos pela imprensa, mas sim "das omissões oficiais, dos abusos policiais, do exercício arbitrário do poder, da falta de dinamismo na prática de atos que conduzam a reforma de profundidade".

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