sábado, 19 de julho de 2008

Igreja apóia operários para o que der e vier (Tribuna da Imprensa há 40 anos)

19 de julho de 1968


O arcebispo de São Paulo, dom Agnelo Rossi, afirmou ontem que a violência é o único instrumento do operário para responder à violência do governo, quando não houver mais condições de diálogo. Comentando a greve dos metalúrgicos de Osasco, o bispo-auxiliar de S. Paulo, dom Paulo Evaristo, manifestou-se solidário ao pronunciamento de dom Agnelo, e advertiu que "a Igreja no Brasil está para o que der e vier". "Dou integral apoio aos operários. Queremos diálogo, mas se os opressores não querem o diálogo a saída é a encíclica Populorum Progressio, que admite a luta armada em caso de tirania prolongada".

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil delegou poderes a dom Romeu Alberti para estudar a crise de Osasco. Os prelados se disseram "alarmados" com a prisão dos padres Antônio Soares, de Osasco, e José Augusti, de Botucatu. Dezesseis sindicatos de São Paulo e da Guanabara se reuniram ontem, na capital paulista, para definir os rumos do movimento contra o arrocho salarial e a intervenção militar no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco.

Jânio pode ter o dedo na crise de Osasco

Há um certo interesse do governo no sentido de envolver o sr. Jânio Quadros nos acontecimentos de Osasco conforme se observava ontem nos meios políticos e trabalhistas. É que o prefeito desse município paulista, Guaçu Piteri, foi o único chefe de executivo municipal a estar presente no desembarque na Guanabara do ex-presidente, em fins de junho. E nessa ocasião, segundo a versão, ele teria sido instruído para converter Osasco na "Naterre brasileira".

Serviço secreto prende líder sindical

Agentes do serviço secreto do Exército, comandados pelo major Carlos Alberto, prenderam ontem, em Caxias, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Petróleo, Paulo Rangel Sampaio. A prisão de Paulo Rangel, que é também presidente do "Sindiquímica", ocorreu depois da invasão da sede dos sindicatos de Caxias, onde os homens chefiados pelo major fizeram completa vistoria.

A prisão do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Petróleo ocorreu por ordem do coronel Rebol, do 1º Grupo de Canhões Anteaéreos. A batida foi efetuada primeiramente no Sindicato da Indústria de Refinação e Distilaria de Petróleo, onde foi preso seu presidente. O motivo alegado foi o de ter o lider sindical lançado manifesto protestando contra a venda da Fábrica Nacional de Motores.

Seleção matou saudade da longa ausência

Ninguém sabe ainda qual o saldo em cruzeiros que a seleção trouxe: o chefe da delegação, sr. Silvio Pacheco, saiu de Lima para visitar parentes em Los Angeles e seu eventual substituto - o sr. Alfredo Curvelo - só estava autorizado a anunciar o bicho da goleada de 4 a 0 sobre os peruanos: 400 dólares a cada jogador. Foi o maior prêmio da excursão. A saudade era muita. Depois de mais de 30 dias longe do Brasil, os jogadores puderam rever os seus familiares.

A chegada no Galeão foi às 15 horas e 15 minutos e houve de tudo no aeroporto: muita gente, polícia impedindo fotógrafos de trabalhar, juiz pedindo prisão de jornalistas, jogador andando quase um quilômetro na pista com embrulhos em profusão e até Armando Marques dando mais um show de vedetismo. Tudo isso e mais Aimoré dizendo que a Copa do México está mais perto.

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