quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Costa não cede e povo volta às ruas amanhã

3 de setembro de 1968


Os estudantes da Guanabara decidiram voltar às ruas amanhã, em face da recusa do presidente Costa e Silva em atender às suas reivindicações básicas: reabertura do restaurante do Calabouço e a libertação dos colegas presos. O encontro do marechal com a Comissão dos "Cem Mil" ontem, em Brasília, nada produziu. Fechando questão naqueles dois pontos, o presidente da República baseou toda a sua argumentação em preconceitos e fez exigências que a Comissão classificou de "inaceitáveis". Uma delas, por exemplo, estipulava que os estudantes seriam soltos se assumissem o compromisso de "nunca mais haver passeatas".

Quanto ao Calabouço, o marechal nem sequer aceitou discutir o assunto. Da passeata de amannhã participarão, além dos estudantes, organizações femininas, de pais, mestres, sindicais, grupos intelectuais e artísticos. A marcha foi permitida oficialmente pelo sr. Negrão de Lima que, entretanto, fez uma ameaça velada: "A Cidade não poderá ser paralisada uma vez por semana". Os estudantes de São Paulo sairão às ruas hoje à tarde em protesto contra a prisão de dezesseis colegas.

Regresso de Lacerda surpreende e preocupa governo

O regresso antecipado do sr. Carlos Lacerda provocou ontem, em todos os escalões do governo a maior preocupação. Nos setores militares a notícia do retorno do ex-governador surpreendeu até os responsáveis pelas repartições oficiais de segurança, enquanto a área civil só tomou conhecimento do fato através do noticiário das emissoras de rádio e de televisão, às últimas da tarde.

Assessores do ministro da Justiça desmentiram, formalmente, que tenha caráter oficial a ameaça já feita ao sr. Carlos Lacerda de que, no caso de atacar novamente as autoridades governamentais, o seu processo anterior, onde aparece enquadrado na Lei de Segurança Nacional, seria imediatamente encaminhado ao presidente Costa e Silva. "Na área civil - acentuaram - nada existe de concreto contra o ex-governador".

Alzira no lugar de dona Darcy

Dona Alzira Vargas revelou ontem, na missa pela alma de dona Darcy, que está disposta a dar continuidade à sua obra, aceitando a presidência da Casa do Pequeno Jornaleiro. O ato religioso foi celebrado na Candelária, pelos padres Audálio Neves, Barros e Rosálio Lo-Turca, presentes mais de 2 mil pessoas, entre as quais o ministro Gama e Silva e os senadores Dinarte Mariz e Augusto do Amaral Peixoto.

Greve no Uruguai pára tudo

Os operários uruguaios paralisaram virtualmente o país numa greve contra o arrocho salarial decretado pelo governo do presidente Jorge Areco. As ruas de Montevidéu estão desertas e novos reservistas foram convocados para o serviço ativo. Uma ameaça de expulsão pesa sobre "todos os estrangeiros subversivos". Enquanto isso, o custo de vida elevou-se em 50% nos últimos seis meses.

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