sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Comerciário e trabalhador morrem no tiroteio da PM

24 de outubro de 1968

Certos da impunidade, os policiais voltaram a matar, ontem, nas ruas do Rio. Desta vez, suas vítimas são um comerciário e um trabalhador, que foram apanhados pelas balas assassinas quando disputavam o pão de cada dia. Enfurecidos, os "agentes da lei" investiram não apenas contra os estudantes, que realizavam uma passeata, mas atacaram populares, jornalistas, professores, intelectuais e quantos cometiam a "impunidade" de circular pela cidade entregue ao crime, em nome de um curioso dispositivo de "manutenção da ordem".

Trabalhadores dão apoio ao movimento estudantil

As classes trabalhadoras divulgaram documento ontem à noite manifestando sua solidariedade aos estudantes enlutados e denunciando a existência de um clima de terror no País, que atinge também o sindicalismo brasileiro. Na mesma linha, a Ordem dos Advogados do Brasil decidiu levar ao conhecimento do presidente Costa e Silva o teor do protesto que fez ao governador Negrão de Lima, denunciando a brutalidade da Polícia Política. O diretor da Faculdade de Ciências Médicas solidarizou-se com os estudantes e com o reitor Lyra Filho, atribuindo a invasão ao Hospital Pedro Ernesto uma decorrência do regime de impunidade na polícia.

Assembléia: deputados denunciam o terror

Durante a sessão de hoje, na Assembléia Legislativa, vários deputados vão ocupar a tribuna para denunciarem "o verdadeiro clima de terror que continua a imperar no País, em especial no Estado da Guanabara, com estudantes, gente do povo, sendo massacrados e assassinados por uma polícia despreparada e mal orientada". Enquanto o deputado-general Salvador Mandim, da Arena, dizia ontem que "o massacre verificado no Hospital Pedro Ernesto teve as mesmas características dos episódios anteriores e não se pode compreender como as autoridades ficam inertes, diante de tanta violência e arbitrariedade", o sr. Fabiano Vilanova (Grupo Renovador do MDB) salientava que "tudo isso representa um estado de vergonha nacional e início do caos".

Ministros vêem campanha contra o regime

O ministro Augusto Rademaker, ao saudar ontem a Aeronáutica, em nome da Marinha e do Exército, pela passagem do "Dia do Aviador", denunciou a existência de "uma insidiosa campanha de solapamento de nosso meio jornalístico, estudantil, artístico, militar, clerical e político, inspirada em regime onde a liberdade há muito desapareceu e por eles é orientada vem sendo criminosamente desenvolvida no "País".

Também o ministro da Aeronáutica, brigadeiro Márcio Sousa e Melo, ao agradecer a saudação de seu colega da Marinha, manteve o mesmo tom de denúncia dizendo que, "em que pese a incitação solerte dos títeres que deformam o injuriam, abrigando-se depois da situação patética de vítimas e que buscam dividir os brasileiros, a nossa união indestrutível permitirá ao governo assegurar aos que, pelo estudo e pelo trabalho, venham a ser os consolidadores e os ampiladores da grandeza que almejamos para a nossa Pátria".

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