sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O Carnaval que não houve

(Manchete da TRIBUNA DA IMPRENSA de 28 de fevereiro de 1968)

O Brasil e, principalmente, o Rio de Janeiro perderam uma grande oportunidade de construir, de vez, a sua indústria de turismo de Carnaval. E, pelo contrário, deram o tiro de misericórdia nessa tentativa de fazer o Carnaval carioca a principal motivação para o afluxo de turistas ao País. O que se presenciou no dia do principal espetáculo deste Carnaval - o desfile das escolas de samba - foi qualquer coisa de desprimoroso para uma cidade que pretende ser turística: nossa reportagem teve oportunidade de registrar a revolta de turistas argentinos, franceses, espanhóis, americanos e até russos.

Escolas prejudicadas pelas chuvas pedem novo desfile como compensação

Armando Santos, presidente da Associação dos Cronistas Carnavalescos, interpretando o sentimento da maioria dos presidentes de escolas de Samba, pediu, ontem, que as autoridades da Secretaria de Turismo do Estado considerem como não existente o desfile de domingo das escolas de samba e promovam novo desfile, em data a ser marcada, que poderá ser sábado próximo, ou mesmo sábado de Aleluia.

Os dirigentes das escolas de samba, principalmente as cinco primeiras a desfilar - Independente do Leblon, Unidos de São Carlos, Unidos de Lucas, Unidos de Vila Isabel e Portela -, alegam que as fortes chuvas que caíam desde às 9 horas da noite, prejudicaram sobremaneira a apresentação das suas respectivas escolas destruindo alegorias e prejudicando em, pelo menos, noventa por cento a beleza das fantasias.

Menos gente e a alegria de sempre no Baile do Municipal

O Baile de Gala do Teatro Municipal, este ano menos concorrido, foi marcado, também, pela incompreensão da polícia que "caçava" os foliões até nas mesas. Enquanto isso no meio do salão e nos camarotes, mulheres se despiam para as câmaras de televisão. A grande sensação do Baile do Municipal não foram as ricas fantasias apresentadas, foi a chegada do ex-presidente da República, sr. Juscelino Kubitschek, acompanhado da família. A vibração foi geral.

A orquestra parou a música que tocava, por insistência dos foliões, que passaram a cantar o "Samba do Crioulo Doido", que se refere a JK e sua cidade natal, Diamantina. Na verdade, foi muita a euforia dos filiões, pois, com tanta liberdade, velhos e jovens entregaram-se sem restrições à alegria, em prejuízo das mais altas autoridades políticas e milicianas do País.

Escolas desfilaram em noite de chuvas

As escolas de samba Independente do Leblon, Unidos de São Carlos, Unidos de Lucas, Unidos de Vila Isabel e Portela foram as mais prejudicadas com as chuvas intermitentes de domingo e madrugada de segunda-feira de Carnaval. O desfile dessas cinco escolas se fez sob forte aguaceiro, o que tirou, pelo menos 80 por cento da beleza das fantasias e alegorias que apresentaram.


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