sábado, 19 de abril de 2008

Costa e Silva recua de punição

(Manchete da TRIBUNA DA IMPRENSA de 19 e 20 de abril de 1968)


As lideranças da Arena no Congresso receberam instruções do presidente Costa e Silva para que modifiquem, quando em tramitação, o projeto que enquadra 68 municípios em "zonas de segurança nacional". As alterações determinadas se referem ao capítulo que prevê a punião dos governadores que, no prazo de 10 dias, não demitirem os prefeitos nomeados que percam a confiança do presidente da República. O recuo do governo foi provocado pela violenta reação dos parlamentares da própria Arena à matéria, interpretada como "arbitrária e sem justificativa maior".

Alguns deputados arenistas estavam dispostos mesmo a votar contra o projeto. Na Câmara, o deputado Cunha Bueno disse que o governo violou, a um só tempo, uma tradição da história brasileira e um preceito constitucional, ao retirar o direito do povo eleger seus prefeitos. O Bloco Municipalista na Câmara vai formar frente única para torpedear o projeto governamental.

Estudantes queriam dialogar mas DOPS chegou e prendeu

Mais quinze universitários estão presos, incomunicáveis, no DOPS, depois de terem sido detidos, ontem, em frente à Reitoria da Universidade do Brasil. Os estudantes esperavam na calçada o momento de conversar com o reitor Moniz de Aragão sobre problemas da classe. Pouco antes de serem recebidos, chegou uma viatura da DOPS, e os agentes deram-lhes ordem de prisão, fazendo-os entrar no carro sob gritos, socos e pontapés.

A "Frente Unida dos Estudantes do Calabouço" suspendeu a passeata programada para amanhã, informando que um novo ato público está marcado para terça-feira, às 18 horas, no pátio do Ministério da Educação. Os jornalistas Washington Novais e Ziraldo Alves (foto acima) prestaram depoimento ontem no Inquérito do Calabouço.

Dia do Trabalho vai ter protestos contra salários

As Confederações e Sindicatos de Trabalhadores da Guanabara estão decididos a fazer de qualquer maneira manifestação pública a 1º de Maio, para protestar contra a política salarial do governo. As lideranças sindicais deverão procurar obter permissão para o ato, que, entretanto, será realizado com ou sem permissão das autoridades policiais.

Embora lamentando, os líderes trabalhistas disseram que estão indiferentes à proibição de manifestações públicas, determinada pelo novo secretário de Segurança carioca. Argumentam que o direito de livre expressão de pensamento é garantido pela própria Constituição e nenhuma autoridade poderá negá-lo. O programa de 1º de Maio prevê um comício num ponto central do Rio, na parte da manhã, de onde os trabalhadores seguirão ao Maracanã para assistir ao prélio Vasco x Flamengo.

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